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Café Poesia

Um pouco de poesia com cheirinho a café

Se me tivesses ouvido (mesmo não me escutando como gostaria)

Ilustração de Herbert Ponting

 

 

Percorro o mundo de olhos vendados,

Para nada ver...

Fujo de mim,

Para me esquecer...

 

Nada faz sentido já,

Agora são apenas meras palavras,

Meras palavras de sonhos,

Que outros se recusaram a ouvir!

 

Não peço que as escutem,

Mas que as ouçam só!

Nem que não as entendam,

Nem que não lhes metam dó!

 

E tu?

Porque não me ouviste?

Porque não fingiste te importar?

Tudo teria sido tão diferente...

 

Do mesmo modo que a criança foge para a margem

Do rio por medo de se afogar

Eu fugi de ti,

Não por medo de te amar, mas por medo de sufocar!

 

Aparentemente amigos não te faltam.

Ai, quantos riachos correm para o socorrer...

Quantos riachos carregados de veneno,

Correm para o ver morrer!

 

E assim és tu,

Tão cínico e falso como o riacho que corre,

Que socorre de faca em punho escondida,

Sem amar, sem sentir, sem acreditar!

 

Um dia terminarás como um rio seco

Em dia de verão em pleno Alentejo...

Seco pelo teu amor próprio!

Sem amigos... sem amor... sem mim!

 

Assisto vangloriosa à tua queda,

Aproximar-me-ei um dia da tua porta,

Para saber que sofres...

Para saber que desejavas ter escutado,

As palavras que um dia pronunciei!

 

Sinto-me vingada,

Passaste por tudo aquilo que passei,

E agora, na minha cabeça apenas uma pergunta desanimada:

"Sou feliz?"

 

Assim sou eu: Tão viva que salto por entre os outros;

Tão morta que carrego veneno que mata;

Tão falsa e alucinada, que faço aos outros,

Aquilo que não gostei que um dia,

Tivesses feito comigo!

 

Se me tivesses ouvido,

(Mesmo não me escutando como gostaria),

Seriamos como o rio que corre para o vivo mar,

E não os riachos que o envenenam,

Para dele se vingar!

 

ano: 2009

Soberania

  Ilustração Harumi Hironaka

 

Irrita-me a tua arrogância plena,

Tua altivez descontrolada,

Vagueando pelas ruas, soberana,

Confiante que por todos és estimada!

Agitas os doirados cabelos,

Olhando o mundo com superioridade,

Surpreendes todos por esconderes

Nessa cara de anjo, tamanha maldade!

Escondes por trás desse profundo olhar,

Azul olhar, de gata amansada,

Toda a inveja que tens bem guardada,

Daqueles que um dia te ousaram enfrentar!

Julgas-te perfeita,

Sem nenhum mal…

E por isso,

Irrita-me a tua perfeição,

A tua definição de beleza,

Irrita-me teu coração,

Por conter tamanha frieza!

 

ano: 2008

Memórias

Ilustração de Pacaud Julien

 

 

Recordo como o teu cheiro se entranhava

Na minha roupa, como me atordoava

A alma e me corrompia o pensamento

E o discernimento de escolher para mim.

 

Revejo fotos, limpo os olhos das lágrimas,

Martelo a alma e culpo o corpo,

Da cobardia de outrora, da falta de estima,

Da tentativa falhada de ser feliz.

 

Tropeço agora em ti por acidente,

Recordo por isso as alegrias e os choros

Que à noite perigosamente me trazias.

Todos os sonhos que inconscientemente desfazias.

 

Pergunto-me o que é que será de ti.

 

ano: 2016

Vida Malvada

Ilustração de Arthur Rackham

 

 

Vida malvada,

Que tanto fazes sofrer!

Ou são pais que se matam,

Ou amigos a desaparecer!

 

Vidas que se destroem,

E vidas que se acabam por esquecer!

Orgulhos que sobem…

E que nunca irão descer!

 

Feridas que perduram,

Que sempre me fizeram sofrer.

Lágrimas que me vão matando,

Desde que decidi nascer!

 

Parece que vivo num jogo,

Só espero dele um dia conseguir fugir.

Fugir desta maldita vida,

Que não para de me ferir!

 

ano: 2008

Doce Veneno

Ilustração de Gabriel Marques Bertha

 

 

Santo pecado que estais em mim.

Doce veneno que me enlouquece.

Perigoso amor que não tem fim;

Por mais que se queira, não se esquece!

 

Irrompe como rocha, fura o chão.

Aumenta o batimento do coração!

Faz perder os sentidos da mente.

Faz palpitar este coração indecente!

 

Invade sem pedir licença,

Devastando tudo por onde passa!

E mal sente a sua presença,

A minha alma se estilhaça!

 

A vida segue, vai passando,

E já não me segue como seguia,

Já não vive me martirizando,

Logo agora, que já não sofria!

 

Sou então por ele esquecida...!

 

Agora, apenas um trapo envelhecido…

Velha já para nada sirvo!

E seu doce veneno abandona,

Meu corpo então adormecido;

Ficando apenas chorona,

Recordando o tempo esquecido!

 

Santo pecado que já não estais em mim.

Doce veneno que me abandonaste!

Interesseiro sonho que em mim aleitaste,

Para depois me abandonares assim…

 

ano: 2007

Ainda me Lembro

Ilustração de Alice Lin

 

 

Lembro-me do teu sorriso enquanto me olhavas,

Do teu ternurento olhar enquanto me tocavas!

Das lágrimas que sempre me provocaste,

Da mágoa e dor que me experimentaste!

 

Das palavras confusas e do constrangedor olhar,

Do maravilhoso e surpreendedor palpitar!

Da partida sentida, do olhar magoado

E do teu irritante sorriso consternado!

 

Lembro-me ainda de tontas palavras,

Do quão bela me fazias sentir!

Das traições que por te amar enfrentava,

E do perigo em que me deixavas cair!

 

Parece inacabada a nossa trágica história,

E tantos anos passaram desde então,

Mas infelizmente não me sai da memória,

As imagens que me amarfanharam o coração!

 

Infelizmente a lembrança é excessiva,

Mas a dor de te lembrar é ainda maior.

Por vezes pergunto-me se alguma vez sentiste,

O meu coração latente de dor…

 

ano: 2010

O Teatro - Duas visões, um só momento (Parte II)

Ilustração de Aitch

 

 

Visão do Artista

 

As Luzes ligam-se e o pano sobe,
O fervente sangue rodopia em círculos,
Impedindo o pensamento e a coerência.

 

Treme. Amedronta-se. Chora.
Nada é certo e real.
Tudo é relativo e inconstante.
Mordaz!

 

Sufoca.
O ar deixa de entrar vorazmente,
Criando uma sensação de dor e de desmaio.

 

Loucura.
Demência.
Tudo deixa de fazer sentido.

 

Agarra-se ao seu cheiro incandescente,
– Para tentar recordar-se de quem é –
E deixa-se desligar…
Na esperança de voltar a ser racional!

 

… E volta a dolorosa sensação de prazer súbito,
Como se outra sensação não conhecesse!
Sensação mágica. Inexplicavelmente mágica!

 

… E ferve novamente o sangue,
Apuram-se novamente os sentidos.
Entra de rompante para o palco
E brilha como um sorriso de criança!

 

Porém o jovem artista sofre e enlouquece,
Tudo o que decorara outrora, desaparece…
Desesperado decide improvisar,
Os seguintes versos que diz a chorar.

 

Já não sei rimar!
Os meus dedos perderam a voz e o talento!
Nem em verso sei chorar, já…
Nem transformar palavras em sentimento!

 

Entre soluços continua:

 

Tudo da minha mente se apagou,
As deixas… os passos…
O medo, do meu corpo se apoderou…
Restando apenas estes meros versos!

 

O palco é a minha vida,
As deixas o meu respirar,
E quando as cortinas se fecham,
Chega-me a faltar o ar!

 

Após a emotiva declamação,
Deixa o palco a correr,
Baixando o olhar envergonhado.
Até o pano finalmente o esconder.

 

Sofre. Rebenta de Raiva.
Amolece… e Chora!

 

Julga sua vida de actor terminada,
Julga não ter honrado sua avó tão amada,
Não tendo proferido os versos por ela criados,
Por ela tantas vezes pronunciados!

 

Loucura.
Demência.
Tudo deixa de fazer sentido, novamente.

 

De repente, por detrás do pano,
Ouve uma ovação em sua homenagem,
O público todo em pé a aplaudi-lo,
Pensando que encarnou bem a personagem.

 

As luzes ligam-se e o pano sobe novamente,
E o jovem actor sentindo-se amado, alegremente
Sobe para o palco com o sorriso de criança,
Desejando que aquela sensação nunca mais desapareça.

 

 

Visão do Público

 

O Público, não percebendo o engano,
Adorou a actuação,
Levantando-se com toda a ostentação.

Palmas para o artista! Palmas!

 

ano: 2010

 

O Teatro - Duas Visões, Um Só Momento (Parte I)

Ilustração de S. Jamal

 

Visão do Público

 

O pó no chão não esconde os anos que se encontrara fechado,

O teatro em ruínas pela guarda selado.

“Foi crime passional”, contaram os mirones atrevidos

Que encontraram a moça no chão sem sentidos!

 

Há anos que a peça se ensaiava,

E no dia que estriava,

Contam os jornais que morreu,

A mais bela actriz que o mundo outrora conheceu.

 

Reabrem as portas que cem anos se encontraram fechadas,

Do teatro em ruínas pela guarda selado.

Reabrindo com o conto cem anos guardado,

Que se julga, pelo incidente, estar a amaldiçoado.

 

Finalmente, as luzes apagam-se e ergue-se o pano imundo.

O fervente sangue rodopia em círculos,

Daquele que aguarda com nervosismo a entrada:

O actor, e neto da actriz degolada!

 

Todos se levantam quando o jovem actor entra.

Palmas para o artista! Palmas!”

 

(amanhã continua)

 

ano: 2010

Até à vista!

Ilustração Sara Olmos

 

O vento bate frio e já não traz tua presença,

Já não oiço tua voz, nem sinto teu corpo macio,

Preferia que estivesses perto mesmo com indiferença,

Do que não saber por onde andas e sentir este vazio!

 

Sei que não fui o melhor que te poderia ter acontecido,

Sei que não te demonstrei o amor que em mim contenho,

Mas as lágrimas que em mim encerro,

Não vão acalmar meu coração enraivecido!

 

Sei que me vais esquecer,

Mas eu nunca esquecerei teus olhos brilhantes.

Tu tão pequenina no meu colo ao entardecer,

E muito menos tua alegria constante!

 

Sei que provavelmente não te voltarei a ver,

Sei que para mim serás apenas uma fotografia guardada,

Mas quero que saibas que nunca te irei esquecer,

E serás sempre por mim muito amada!

 

Sei que ainda pensas em mim,

Podem dizer o contrário mas eu sei que sim,

Mas agora chegou altura da partida, pois a vida é vã!

Vive feliz, até à vista minha amiga, minha irmã!

 

ano: 2009

Anjo Canino

Ilustração de Benjamin Flouw

 

Será que sofreste quando teu pesado corpo caiu no chão

E teus olhos para sempre se fecharam?

Será que de mim te lembraste,

Quando os belos anjos te levaram?

 

Será que ainda zelas por mim no imenso Céu,

E me guardaste um lugar bem confortável a teu lado?

Ou apenas apagaste as memórias terrestres,

Enquanto brincas com o ser por ti mais amado?

 

Eternas saudades de ti...

 

ano: 2005

Café Poesia 500px.png

Ilustração de Sophie Griotto

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