Rio feliz, com candura, e serenamente, Limpo as lágrimas e escondo o lenço, Escondendo no lenço a amargura, Que na alma se crava, de modo denso.
Porque de dia sou luz, sou alegria e multidão, Mas à noite sou sombra, sou tristeza e solidão! Porque de dia sou barulho, sou gente com esplendor. Mas à noite sou silêncio, sou vazio... Apenas dor!
Choro triste, sem pudor, mas ternamente, Escondo o sorriso envergonhado que à luz espreita, Escondendo no coração a alegria, Que na alma brota, de modo puro, tão perfeita.
Aceito-me. Não tenho de viver em contra-luz, Nem contra a luz, nem contra as sombras. Aceito os meus sorrisos e os meus olhos raiados. Aceito os dias felizes e os amargurados.
E o que seriam dos dias sem as noites? Ou então das sombras sem as luzes? Bem ou mal eu quero sentir, Nem que em mil pedaços me tenha de partir!
Hitler no céu queria tentar entrar. Mas Deus não quis que ele entrasse! Que apesar de ser bom a perdoar, Não havia feito de bem que se registasse.
Então Hitler para o inferno espreitou, Que esse já lho tinham garantido, Mas Diabo com maus modos o desconsiderou! "Aqui não entra tamanho pervertido!"
E a fila não andou. Por contrário... Aumentou! E Hitler bufou, e todo o purgatório parou.
E o homem de bigodes esperou, Impaciente, o Diabo, os olhos revirou, E então Hitler percebeu que ainda demoraria, A tal busca pela última moradia!
E eu que só queria subir, Para nalgum canto quente ou frio me encostar. Para dormir. Bufei desesperada, que não chegava a minha vez, Blasfemei o purgatório com altivez!
"Diabo deixa entrar para o inferno este homem, Que te serviu, e que à tua semelhança se fez!" Mas o Diabo bateu-me com a porta ofendido, Que "nunca fora tamanha, [a sua] malvadez!"
E a fila não andou. Por contrário... Aumentou! E Hitler bufou, e todo o purgatório parou.
E eu reclamei, certamente desesperada, Que já só queria uma, quente ou fria, fofa almofada. "Por favor querido Diabo deixa entrar este bigodes, Que te garanto que te vai matar as fomes!"
E curioso o Diabo pela porta do inferno espreitou, Com o seu risinho malvado de mim se aproximou. "Que dizeis?" perguntou pensativo E eis que lhe dou uma dica sussurrada ao ouvido.
Os olhos do Diabo brilharam, E o sorriso malvado no seu rosto reapareceu, De espeto de porco na mão, bem fumegante, Com Hitler assado, o inferno abasteceu!
E a fila finalmente andou. Rapidamente... Se esfumou! E Hitler já não mais bufou, e todo o inferno o degustou.
Olhou para dentro de si e percebeu que tudo mudou, Percebeu que a menina de outrora, Doce, submissa e acolhedora, Olhou para dentro de si e a si renunciou!
Marcou-a sentir que a alma de si fugia, Que de si escapou e a si já não voltou. Porque apesar de ser já gritante a sintomatologia, Foi preciso cair ao chão. A menina se arranhou.
Deixou de querer brincar, a menina, Renunciou às casinhas e aos brinquedos, Renunciou à estabilidade e aos segredos, "Deixou de ser séria, a menina!"
Então arrumou a sua casa e o seu coração, Bateu a porta com dor mas sem exasperação, Saiu sem caminho convenientemente delineado, Buscou, a menina, com esperança o seu verdadeiro fado.
Tudo deixou para trás em busca do desconhecido, Como se a vida por si só não fosse aventura suficiente, E durante esse caminho enegrecido, Foi colando as peças de si, resiliente.
E assim a menina que se perdeu, E que certamente errou mais do que acertou, Se foi encontrando por entre caminhos encalhados, E abriu finalmente os olhos, outrora vendados.
E continuou a chorar e continuou a sorrir, Que vida que se preze também tem muros a ruir. E agora com a alma aconchegada, finalmente entendeu... Essa menina que se olha no espelho e se perdeu... Afinal, era eu!
Pelo amor à mensagem de Pessoa, Criou com amor e dedicação, O nosso rei lutador, Que conquistou a nossa nação!
Porém vingativa e cruel, Contra seu filho se debateu, Na escritura d’Os Lusíadas, De seu filho se esqueceu!
D. Filipa abençoada, Grandes filhos criou. Na Mensagem de Pessoa, O povo a idolatrou!
Porém Inês de Castro, coitada, Que D. Pedro tanto amou, Traída pelo destino, D. Afonso a degolou.
Lembremos também aquelas mulheres devotas, Que em Camões se impugnaram, Que em Pessoa desesperaram, E que seus filhos viram partir!
Mães, esposas, irmãs, noivas, Não nos esqueçamos de todas aquelas que participaram, Nas maiores obras que contaram, Os grandes feitos do povo português!
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