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Café Poesia

Um pouco de poesia com cheirinho a café

Repost: Já chegamos? Já chegamos?

jachegamos1.png

 

Já chegamos? Já chegamos?

Mas o carro teima em acelerar.

Já chegamos? Já chegamos?

Mas o mundo teima em não abrandar.

Já chegamos? Já chegamos?

Mas o tempo teima em não parar.

 

Temos pressa de chegar.

Muita.

E queremos o relógio abrandar.

Tantas vezes.

E não percebemos, dizemos nós, o motivo,

De não darmos pelo tempo passar.

 

Já chegamos? Já chegamos?

Para. Deixa-me respirar.

Deixemos de ter pressa, de correr.

Aproveitemos cada brisa que nos acolhe,

Esqueçamos o tic-tac que nos persegue,

Aproveitemos o tempo para realmente viver!

 

Viver é aproveitar, é verdadeiramente estar,

É ouvir em volta, é verdadeiramente escutar,

É sentir cada cheiro, é saborear,

Viver é o contrário de apressar.

Já não queremos chegar. Não assim tão rápido.

 

 

Poesia escrita ao abrigo do Desafio dos Pássaros.

ano: 2019

Repost: Compotas compotas, cabelos à parte

Imagem retirada daqui

 

 

Constança queria uma máscara capilar,

Mas isso a Mula não lhe podia vender,

Então a Mula deu-lhe umas boas amostras

De compota, para o seu cabelo feliz ser.

 

Constança não queria a compota,

Mas mais a Mula não lhe podia dar,

Decidiu insistir nas amostras de compota,

Que iriam fazer o seu cabelo brilhar.

 

Que seus cabelos ruivos, cor de abóbora, vão agradecer!

Dizia tudo, a Mula, para vender!

Mas a Constança que não caía na cantiga,

Queria uma máscara, química, à moda antiga!

 

Olhe que a compota é boa!

Tem amêndoas para o cabelo esfoliar,

E mais a mais se não gostar...

Coma-a à colher prá fome saciar!

 

Em cantigas, aos poucos Constança caía,

Como acontecia com as que lhe cantava o homem,

E as embalagens até tinham uma imagem bonita...

Porque já se sabe... Os olhos também comem!

 

E assim Constança encheu a despensa,

De compotas que iria à colher comer,

Enquanto via à noite a novela,

Que até da máscara capilar lhe fazia esquecer!

 

E assim continuram secos, os cabelos.

Mas Constança com o estômago mais forrado,

Para depois se deitar junto do homem,

Que a esperava, como sempre, entusiasmado!

 

 

Poesia escrita ao abrigo do Desafio dos Pássaros.

ano: 2019

Repost: Das entranhas

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Podem encontrar a receita deste bolo aqui.

 

 

Enquanto o bolinho bom cresce no forno, 

Algo maravilhoso cresce dentro de mim, 

Será cansaço será gente?

Gente não é certamente, 

E o cansaço não bate assim.

 

É talvez a saudade, 

Mas há pouco, há poucochinho,

Nem uma saudade batia. 

Nem na quieta melancolia, 

Do vento que sopra lá fora.

 

Como cresce, assim, levemente,

Com tão tamanha vontade, 

Que mal se ouve, mal se sente?

Não é cansado, nem é gente,

Nem é saudade com certeza.

 

Percebi: Há muito não comia,

E das entranhas do meu ser, 

Uma vozinha susurra come, 

Comecei a salivar,

E então aí percebi: É fome! 

 

ano: 2019

Repost: Na fila para o purgatório

 

Imagem retirada daqui

 

 

Hitler no céu queria tentar entrar.
Mas Deus não quis que ele entrasse!
Que apesar de ser bom a perdoar,
Não havia feito de bem que se registasse.

 

Então Hitler para o inferno espreitou,
Que esse já lho tinham garantido,
Mas Diabo com maus modos o desconsiderou!
"Aqui não entra tamanho pervertido!"

 

E a fila não andou. Por contrário... Aumentou!
E Hitler bufou, e todo o purgatório parou.

 

E o homem de bigodes esperou,
Impaciente, o Diabo, os olhos revirou,
E então Hitler percebeu que ainda demoraria,
A tal busca pela última moradia!

 

E eu que só queria subir,
Para nalgum canto quente ou frio me encostar. Para dormir.
Bufei desesperada, que não chegava a minha vez,
Blasfemei o purgatório com altivez!

 

"Diabo deixa entrar para o inferno este homem,
Que te serviu, e que à tua semelhança se fez!"
Mas o Diabo bateu-me com a porta ofendido,
Que "nunca fora tamanha, [a sua] malvadez!"

 

E a fila não andou. Por contrário... Aumentou!
E Hitler bufou, e todo o purgatório parou.

 

E eu reclamei, certamente desesperada,
Que já só queria uma, quente ou fria, fofa almofada.
"Por favor querido Diabo deixa entrar este bigodes,
Que te garanto que te vai matar as fomes!"

 

E curioso o Diabo pela porta do inferno espreitou, 
Com o seu risinho malvado de mim se aproximou.
"Que dizeis?" perguntou pensativo
E eis que lhe dou uma dica sussurrada ao ouvido. 

 

Os olhos do Diabo brilharam,
E o sorriso malvado no seu rosto reapareceu,
De espeto de porco na mão, bem fumegante,
Com Hitler assado, o inferno abasteceu!

 

E a fila finalmente andou. Rapidamente... Se esfumou!
E Hitler já não mais bufou, e todo o inferno o degustou.

 

 

Poesia escrita ao abrigo do Desafio dos Pássaros.

ano: 2019

Repost: Viver marca, encontrar-se dói

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Olhou para dentro de si e percebeu que tudo mudou,
Percebeu que a menina de outrora,
Doce, submissa e acolhedora,
Olhou para dentro de si e a si renunciou!

 

Marcou-a sentir que a alma de si fugia,
Que de si escapou e a si já não voltou.
Porque apesar de ser já gritante a sintomatologia,
Foi preciso cair ao chão. A menina se arranhou.

 

Deixou de querer brincar, a menina,
Renunciou às casinhas e aos brinquedos,
Renunciou à estabilidade e aos segredos,
"Deixou de ser séria, a menina!"

 

Então arrumou a sua casa e o seu coração,
Bateu a porta com dor mas sem exasperação,
Saiu sem caminho convenientemente delineado,
Buscou, a menina, com esperança o seu verdadeiro fado.

Tudo deixou para trás em busca do desconhecido,
Como se a vida por si só não fosse aventura suficiente,
E durante esse caminho enegrecido,
Foi colando as peças de si, resiliente.

 

E assim a menina que se perdeu,
E que certamente errou mais do que acertou,
Se foi encontrando por entre caminhos encalhados,
E abriu finalmente os olhos, outrora vendados.

 

E continuou a chorar e continuou a sorrir,
Que vida que se preze também tem muros a ruir.
E agora com a alma aconchegada, finalmente entendeu...
Essa menina que se olha no espelho e se perdeu... Afinal, era eu!

 

 

Poesia escrita ao abrigo do Desafio dos Pássaros.

ano: 2019

Repost: A mulher nos Lusíadas e na Mensagem

 

Pelo amor à mensagem de Pessoa,
Criou com amor e dedicação,
O nosso rei lutador,
Que conquistou a nossa nação!

 

Porém vingativa e cruel,
Contra seu filho se debateu,
Na escritura d’Os Lusíadas,
De seu filho se esqueceu!

 

D. Filipa abençoada,
Grandes filhos criou.
Na Mensagem de Pessoa,
O povo a idolatrou!

 

Porém Inês de Castro, coitada,
Que D. Pedro tanto amou,
Traída pelo destino,
D. Afonso a degolou.

 

Lembremos também aquelas mulheres devotas,
Que em Camões se impugnaram,
Que em Pessoa desesperaram,
E que seus filhos viram partir!

 

Mães, esposas, irmãs, noivas,
Não nos esqueçamos de todas aquelas que participaram,
Nas maiores obras que contaram,
Os grandes feitos do povo português!

 

ano: 2008

Repost: Tentar

Imagem retirada daqui

 

 

Eu já tentei, tento e continuarei a tentar...

Mas creio não dispor de mais forças para lutar!

E já sofri, sofro e continuarei a sofrer,

Até ao dia que me permitir deixar de te socorrer!

 

Eu já não sou eu...

Eu já não sou ninguém, efectivamente!

E continuas com força a cravar,

O punhal no meu coração dormente!

 

Dormente porque já não sente,

Dormente como meus olhos que  há muito já não vêem

O lascar de um sentimento que não existe,

De uma vida que deixará, também de existir!

 

Sim eu tentei, tento e continuarei a tentar...

Mas preciso que continuemos a tentar juntos.

Tenta tu também, por favor,

Para que o nosso amor não se junte, aos já defuntos!

 

ano: 2016

Repost: Mentira

imagem retirada daqui

 

 

Sorrir. Chorar.
Amar. Odiar.
Beijar. Sofrer.
Compreender. Não compreender.
Acreditar. Estupidez de acreditar.
Sofrer! Sofrer muito!

 

Tudo é efémero e constante. Inconstante!
Tudo é incertamente certo!
Verdade. Mentira.

 

A verdade da mentira é que ela é doce, sempre amargamente doce. Amada, desejada, esperada! Mas sempre amargamente doce. Vale mais a mentira que a verdade, toda a gente a adora, toda a gente a venera e espera. Espera sempre! Espera… até ao dia que a longa espera passe e a verdade a alcance!

 

Verdade… Sofrida a verdade! Largas horas de sofrimento, tão certo e incerto a cada pensamento!

 

Que sei eu da verdade? Que sabes tu?
Verdade é apenas o indesejado! Tudo o que é indesejado é verdadeiro! Tudo o que é terrificamente mau é verdadeiro! Tudo o que faz sofrer é verdadeiro! Tudo o que faz doer é verdadeiro! E eu? O que sou eu? No que penso eu? Que digo eu?

 

Mentira…

 

ano: 2010

Repost: Poema Anti-Fit

(Um poema para todos aqueles que vivem no limbo - entre a dieta a preguiça de a fazer)

 

Imagem retirada daqui

 

 

Acordo todos as manhãs com a sensação que deveria ir correr,

Mas logo o sofá chama e a televisão se acende.

Fico com a sensação que tenho peso a perder,

Mas a preguiça que há em mim, logo me prende.

 

Todos os dias me deito com a vontade de diferente fazer,

E como o último bolo que no frigorífico esperou,

Mas lá fora o intenso calor, da promessa me faz esquecer,

E lá fico eu no local que sempre me encantou.

 

E assim seguem os meus dias cheios de promessas,

Promessas de um tipo de vida diferente,

Comer coisas esquisitas sem quaisquer pressas,

E ir ao ginásio assiduamente.

 

Mas esta Mula não foi feita para aguentar,

Dias sem conta de total privação,

Então há dias que lá me consigo adietar,

E outros que é uma total descontração.

 

Ano: 2015

 

Reposts atrás de reposts!

Nos próximos dias atualizarei este caderno de versos com vários poemas que constam no Desabafos da Mula, para organizar aqui a coisa. Por isso peço-vos alguma paciência, e quem sabe até poderão reler algum que vos tenha tocado de forma diferente, ou chamado mais a vossa atenção. Nada do que lerão aqui nos próximos dias será novo, mas continua a ser de coração!

 

Obrigada!

Café Poesia 500px.png

Ilustração de Sophie Griotto

Segue a Mula aqui

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